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"Ser de Candomblé não se limita ao fato de ter uma religião, é, sobretudo, um modo de vida".
Pai Lucas de Odé

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Cuidado com o charlatanismo, "Falsos profetas" fazem promessas e estorquem internautas

Por Pai Lucas de Odé

Na tarde dessa quinta-feira, 26, uma pessoa - cujo nome será preservado e aqui chamarei de José - me procurou depois de ver, aqui no Blog do Dambá Odé, que sou um sacerdote do Candomblé. José contou que por problemas amorosos recorreu a um suposto zelador, que de outro Estado, prometeu-lhe trazer a pessoa amada por meio de trabalhos espirituais. No entanto, para isso José teve que depositar  o valor de R$ 300 reais para o suposto pai de santo, que seria o custo pelo trabalho.

É comum no Candomblé os zeladores cobrarem pelos procedimentos que realizam, entre eles pelo jogo de búzios. Isso porque o templo religioso, a casa de candomblé, terreiro, roça, também tem os custos de sua manutenção, como água, luz, IPTU, entre outros. Os custos dos trabalhos prestados ficam a cargo do zelador, que negocia com quem o procura da forma como bem entender. Até aí tudo bem, nada de errado.

No caso de José, o dinheiro foi depositado, o suposto pai de santo disse que fez o trabalho e nada aconteceu. São os famosos trabalhos de "amarração", procurados por muitas pessoas que querem recuperar alguma perda amorosa. 

Infelizmente, como em todos os seguimentos religiosos, no Candomblé também existem charlatões. José me falou de um chat na internet que reúne diversas pessoas que compartilham experiências sobre trabalhos espirituais para esse fim. Entrei para ver. Fiquei horrorizado. Pessoas de diversos lugares do mundo, estorquidas por supostos zeladores, tudo para acalentar seus corações. O problema é que o "amor prometido em 'x' dias" nunca voltou.

Isso abre uma discussão interessante acerca dos trabalhos de "amarração" e da postura dos zeladores do candomblé, ou de qualquer seguimento religioso similar. Amarração existe? É possível trazer a pessoa amada em 'x' dias? O tema é polêmico. Muitos zeladores realizam esses trabalhos, mas o que está por traz desse procedimento?

Seria anti-ético da minha parte querer falar por todos os zeladores espirituais do candomblé, mas vou expressar a minha opinião particular, fundamentada na forma como eu trabalho. Quando uma pessoa me procura solicitando trabalhos para esse fim, minha primeira orientação é que o interessado se disponha a consultar o jogo de búzios - o oráculo do Candomblé. Só assim o sacerdote tem condições de saber se aquele relacionamento tem alguma possibilidade de acontecer ou não.

Nunca ouvi falar de qualquer trabalho que faça brotar amor entre duas pessoas (se soubesse eu seria casado com a Juliana Paes). É necessário que exista o mínimo necessário para que isso aconteça. Quando o jogo de búzios aponta que existe um sentimento entre aquelas duas pessoas e que aquela relação pode ser boa para ambos, a missão do sacerdote é apenas a de reaproximá-las. 

Como isso acontece? Na minha forma de tratar esses casos, essa reaproximação depende do bem estar espiritual dos envolvidos. Como uma pessoa carregada de energias negativas vai estar "interessante" ou sucetível para alguém? Não tem como. É necessário que a outra parte veja o que há de bom na pessoa que lhe deseja e para isso essa pessoa tem de estar com suas energias positivas e essas energias serão, sem dúvida, atrativas a outrem.

Toda pessoa nasce com suas próprias energias. Essas energias são muito peculiares. É isso que nos torna tão diferentes uns dos outros e complexos. É isso que nos torna compatível com alguém, que nos dá sorte para determinadas coisas e a falta de sorte para outras. Como tudo no mundo, o ser humano tambem é polar, logo suas energias também tem uma polaridade, ou seja, o aspecto negativo e o positivo reunidos. Essas energias necessitam ser tratadas para que possamos viver o que há de mais positivo em nós mesmos.

Feito isso, o sacerdote pode trabalhar outras energias que potencializem a sorte da pessoa. Vale ressaltar que essas energias, particulares, não podem ser "despachadas", visto que compõe aquela pessoa. Elas, repito, devem ser tratadas.

Ao meu ver, promessas de trabalhos bem sucedidos, feitos à distância, após um pagamento prévio, podem ser indício de golpe. Só realize o procedimento dessa forma se você tiver total e absoluta confiança naquele zelador. Muitas vezes pessoas - que nem zeladores são - pegam o dinheiro das pessoas e sequer fazem algum trabalho.

De preferencia para os trabalhos presenciais, quando você não tiver conhecimento sobre o zelador. No Candomblé, tudo que fazemos envolve energias. Como beneficiar, ou tornar positiva a energia de alguém, cuja energia não está presente? Isso só é possível quando o sacerdote tem um elo com você. Invista primeiro em conhecer o zelador, faça uma amizade com ele, para que ele tenha o mínimo de conhecimento sobre você e consiga ao menos mentalizá-lo quando for realizar algum trabalho em seu benefício.

Outra dica é investigue a conduta do sacerdote. Procure saber da sua história, converse com pessoas que já foram atendidas por ele, procure casos de sucesso, se ele tem uma profissão, se depende financeiramente dos trabalhos que realiza para subsistir, entre outros fatores.

Podem existir sacerdotes que procedem de outras formas, não os condeno, mas como ser humano pensante que sou - crítico e racional - e depois de vários anos de sacerdócio, não faria sentido qualquer promessa milagrosa de amor.

Espero ter colaborado. Asé Ire O! Òdabó!

5 comentários:

  1. Aquí em São Paulo temos vários falsos BABAS ! Cheios de orgulho , olhando as pessoas por cima , se achando os tais !Pagando pra obterem titulos de BABA , e ainda trocando seus pais e seus santos para ter respeito>Hora essa ,até quando teremos que conviver com isso?Quem vai tomar uma atitude e aniquilar esses maus elementos? Ass Mauricio

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  4. Meu Deus!!! Por misericórdia, o que é isso, eu não acredito que pela 5 vez fui vitima de charlatães novamente, pois pegaram meu dinheiro, fizeram promessas, e estou a quase 6 meses e até agora nada.
    E o pior de todos agora, ou seja o último que procurei ajuda, é um dos tal aqui da minha cidade campo grande-MS.
    Pelo amor de Deus gente! Não brinquem com o sentimento das pessoas, estou desesperada, doente, assim como muitos que estão na minha situação. E agora o que fazer? Onde denunciar? Temos algum direito sobre isso?

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    1. Luanny, infelizmente os recursos para denunciar esses casos não são específicos, seguem as leis comuns, mas você pode ser mais crítica ao escolher um terreiro para se cuidar. Observe com atenção o local, a pessoa e veja se há frequentadores. Além disso pesquise, procure saber da história do babá ou iyá... assim você corre menos risco.

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