Por Pai Lucas de Odé*
Ogum é um bom exemplo... Em seus primórdios foi ferreito (Efon), depois migrou para Irê, onde consagrou-se como Rei (Onirê/Ketu) e depois de várias outras passagens retornou para Efon, de onde provém mais algumas qualidades desse Orixá, de procedência Efon.
E bobagem justificar diferenças de culto acusando diferença de nação entre Ketu e Efon. O Candomblé tradicional pressupõe as mesmas regras em ambas as nações.
Efon é uma nação rica em preceitos e segredos internos, de onde vem a maioria dos fundamentos que praticamos no quarto de santo, montagem de ibás e outras coisas, mas é pobre em cerimonial, adotando então o "barracão" do Ketu.
Ketu é rico em cerimonial, mas extremamente simplista no que se refere à qualidades, ibás e preceitos internos, logo, bebeu também das águas de Efon.
Nas casas tradicionalmente Ketu é comum o sistema de Ojubó, aqueles ibás coletivos onde se acrescenta uma ferramenta ou pedra para o iniciando. Quem tem ibá individual, diferenciado por qualidade, quem veste o santo com especificidades já tem um pé no Efon e talvez nem saiba.
Dois ritos diferenciam-se de maneira mais significativa de uma nação pra outra: a saída do iyawo e o Etá/Egê. No Efon a saída do Iyawo tem cantigas próprias, que exaltam a nação, tocadas em ritmo de Ijexá e uma "plástica" diferenciada que quem já viu pode atestar. O Etá/Egê tem o mesmo cerimonial nas duas nações, mas difere no conteúdo das folhas que o iniciando carrega.
Além disso, até mesmo as casas tradicionais têm misturas de outras nações. A Muritiba tem uma forte influência de uma nação chamada Tedô. A Casa Branca do Ijexá. o Axé Oxumarê do Jeje e o Opo Afonjá de uma nação chamada Gruncy.
Dito isso, nos apeguemos ao que nos aproxima e não ao que nos diferencia. O Candomblé tradicional não muda de casa pra casa, não admite essa crença de que "cada um tem seu tempero".
*Pai Lucas é Babalorixá do Axé Dambá Odé.