Reflexão do dia:

Reflexão da semana

"Ser de Candomblé não se limita ao fato de ter uma religião, é, sobretudo, um modo de vida".
Pai Lucas de Odé

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O centenário de um gênio - Carybé 100 anos

Em 2011 comemora-se o centenário de nascimento de Carybé, o mais brasileiro dos artistas argentinos. O homem que alegrou aos olhos do povo de santo com suas magníficas obras. Você pode até não saber quem é Carybé, mas com absoluta certeza já viu seu trabalho. O cabeçalho do Blog do Ilè Dará traz uma de suas obras, no canto superior direito. Particularmente penso que nenhum ouro artista retratou com tamanha perfeição e dignidade o cotidiano e a cultura dos candomblessistas. Para comemorar o centerário de nascimento do artista, o IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus apresenta uma exposição que traz 14 obras de Carybé pertencentes à coleção Castro Maya, além das edições especiais dos Cem Bibliófilos e da Muito Leal, mais cartas e documentos provenientes do acervo. 

Em destaque, os desenhos que originaram as gravuras para Macunaíma e outros que retratam o carnaval, as brincadeiras infantis e atividades econômicas populares, como a pesca com rede.

Onde: Museu Chácara do Céu – Rua Murtinho Nobre, 93, Santa Teresa
Quando: Até 4 de julho
Informações: (21) 3970-1135
Horários: Diariamente, exceto às terças-feiras, das 12h às 17h. Entrada franca às quartas.

Biografia

Hector Julio Páride Bernabó ou Carybé (Lanús, 7 de fevereiro de 1911 — Salvador, 2 de outubro de 1997) foi um pintor, gravador, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor, muralista, pesquisador, historiador e jornalista argentino naturalizado e radicado no Brasil.

Durante a época que morou no Rio de Janeiro, foi escoteiro. Lá, era costume cada um ser identificado por um nome de peixe e ele recebeu o apelido de Carybé (nome de um tipo de piranha). O artista usou-o então como alcunha no lugar do seu nome de batismo, muito parecido com o do seu irmão, também pintor.

Fez cinco mil trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços. Ilustrou livros de Jorge Amado e Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez. Era obá de Xangô, posto honorífico do candomblé. Faleceu na varanda da casa de Xangô, do Ilê Axé Opô Afonjá, lugar que adorava.

Uma parte da obra de Carybé se encontra no Museu Afro-Brasileiro de Salvador. São 27 painéis representando os orixás do candomblé da Bahia. Cada prancha apresenta um orixá com suas armas e animal litúrgico. Foram confeccionadas em madeira de cedro, com trabalhos de entalhe e incrustações de materiais diversos, para atender a uma encomenda do antigo Banco da Bahia S.A., atual Banco BBM S.A., que os instalou em sua agência da Avenida Sete de Setembro, no ano de 1968.

FORMAÇÃO ACADÊMICA

1925 - Inicia atividades em artes freqüentando o ateliê de cerâmica do seu irmão mais velho, Arnaldo Bernabó, no Rio de Janeiro.

1927-1929 - Freqüenta a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro

1958 - Recebe bolsa de estudos em Nova Iorque, Estados Unidos da América.

CRONOLOGIA (relacionada à religião)

1919 - Muda-se para o Brasil. 

1921 - É batizado com o nome Carybé pelo grupo de escoteiros do Clube do Flamengo, no Rio de Janeiro.

1950 - A convite do secretário da Educação Anísio Teixeira, muda-se para a Bahia, produzindo naquele ano dois painéis para o Centro Educacional Carneiro Ribeiro (Escola Parque), em Salvador, Bahia.

1950-1997 - Fixa residência em Salvador, Bahia.

1967 - Recebe o Prêmio Odorico Tavares - Melhor Artista Plástico de 1967, em concurso instituído pelo governo do estado para estimular o desenvolvimento das artes plásticas na Bahia; realiza o Painel dos Orixás para o Banco da Bahia (atualmente cedidos ao Museu Afro-Brasileiro da UFBA) (Salvador, BA).

1979 - Produz xilogravuras para o livro Sete Lendas Africanas da Bahia, lançado pela Editora Onile.
1981 - Publicação do livro Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia (Ed. Raízes), após trinta anos de pesquisas.

1983 - Realiza painel para a Embaixada Brasileira em Lagos, na Nigéria. 

1984 - Recebe a Comenda Jerônimo Monteiro no Grau de Cavaleiro (Espírito Santo); recebe a Medalha do Mérito Castro Alves, concedida pela Academia de Letras da UFBA; realiza a escultura em bronze Homenagem à mulher baiana, no Shopping Center Iguatemi (Salvador, BA).

1995 - Ilustração do livro O uso das plantas na sociedade iorubá, de Pierre Verger (São Paulo, SP).

Èwè - Folhas

ILÈ DARÁ: Èwè - Folhas: "ABITÓLÁ"


ABITÓLÁ

Nomes populares: Cambará, camará, camará-de-chumbo, camará-de-espinho;

Nome científico: Lantana camara L. Verbenaceae;

Sinonímia: 1) Lantana undulata Schr.
2)Eupatorium hecatanthus Baker.

Orixás: Exú e Xangô

Elementos: fogo/feminino

Nativa na América Tropical, encontra-se disseminada pelos continentes, principalmente o africano e o australiano.

Pode ser considerada uma “folha quente” (“gún” = de excitação) e ligada ao elemento fogo, em banhos é associada às “folhas frias para que haja equilíbrio”.

Os africanos atribuem-lhe os nomes iorubás de èwòn àdèle, èwòn agogo e ègúnwín (Verger 1995:688), e utilizam-na em “receita para tratar hemorróidas internas” e “receita para tratar dores no pescoço” (Verger 1995;195,225).

A população serrana do Rio de Janeiro costuma utilizar o chá das folhas do cambará como sucedâneo do café, e lhe atribuem um ótimo sabor.

Por suas propriedades balsâmicas, suas folhas em infusão têm vasto emprego no combate às doenças das vias respiratórias, bronquites, tosses rouquidões e resfriados.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Cará ou Inhame? O Dambá Odé expõe as diferenças e semelhanças desse importante alimento dos candomblessistas

Conforme o texto abaixo explica, a resposta pode ser óbvia para as pessoas da região Centro-Oeste do Brasil, mas na região Sudeste e até no Nordeste é comum chamarem Cará de Inhame, já vimos essa "confusão" manifestar-se no cotidiano ritualístico de alguns colegas religiosos. Leia o texto e desvende as peculiaridades existentes. Asé Ire O!

Texto João Mathias
Consultor Almir Dias Alves da Silva*


A vasta extensão do território nacional favorece a diversidade e a riqueza cultural do país. Em contrapartida, gera confusão. Inúmeras espécies animais ou vegetais são conhecidas por nomes diversos, às vezes contraditórios. É o que ocorre com o inhame, assim conhecido popularmente no Nordeste, porém chamado de cará em outras regiões brasileiras. De fato, o cará corresponde a variedades do inhame, como cará-barbado, cará-moela, cará-sapateiro, cará-da-costa, entre outras. No Sudeste, o mais encontrado é o cará-são-tomé. Para complicar o quadro, muita gente no centro-sul do país confunde inhame com taro (Colocasia esculenta), pequena raiz comestível de formato arredondado, que pertence à família Araceae. 'Instituições de pesquisa trabalham para desfazer esse equívoco e padronizar a nomenclatura', explica o pesquisador de hortaliças do Incaper - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, Carlos Alberto Simões. O inhame (Dioscorea spp.) é uma túbera cilíndrica e alongada, de cor castanha-clara, que pode chegar a mais de 10 quilos. No varejo, é comum encontrá-lo com pesos entre 700 gramas e três quilos. 

Dotado de alto valor nutritivo, é rico em vitaminas do complexo B, possui sais minerais, carboidratos - em especial amido - e, ao contrário do que possa parecer, contém baixo teor de gordura. De textura firme e considerado energético, ele pode ser uma alternativa à batata. Além de ser comum seu consumo cozido, acompanhado de manteiga, melaço ou mel no café-da-manhã no Nordeste, vai muito bem em pedaços ou como purê nas refeições diárias. Ainda pode ser adicionado a sopas e caldos e serve para a fabricação de farinha e amido, ingredientes para a produção de pirão, pães, bolos, biscoitos e tortas. A planta tolera altas temperaturas e clima úmido. Por isso, encontra ambiente propício para se desenvolver em áreas tropicais. 

Originária da Ásia, espalhou-se pelo continente americano a partir da África. O cultivo de inhame é atividade de destaque na agricultura familiar, sobretudo em Pernambuco, Paraíba, Bahia, Alagoas e Maranhão.





Inhame
Texto João Mathias
Consultor Almir Dias Alves da Silva*




Raio X
SOLO: arenoso, profundo, bem drenado e fértil
CLIMA: temperatura entre 24 e 30 graus
ÁREA MÍNIMA: pode ser plantado até em jardineiras
COLHEITA: sete meses após o plantio
CUSTO: a arroba vale de 20 a 25 reais
Mãos à obra
Rústica, a planta tolera bem o calor e o clima úmido
INÍCIO - o bom desenvolvimento do inhame depende da qualidade da muda adquirida ou da túbera-semente - estrutura da qual se propagam as raízes. Por isso, para iniciar a atividade, compre exemplares de produtores idôneos. Mesmo assim, assegure-se de que não estejam doentes ou sofreram ataques de pragas, se vêm de culturas bem produzidas e se a variedade apresenta potencial produtivo. Fevereiro e abril são os melhores meses para se conseguir mudas para plantios de sequeiro (sem irrigação) no Nordeste. Se a idéia for adotar o cultivo irrigado, o que ocorre a partir de setembro, procure pelas ofertas de julho a agosto.
PLANTIO - primeiramente, faça aração e gradagem do solo. O terreno deve ser arenoso, profundo, bem drenado, rico em matéria orgânica e com pH de 5,5 a 6. A época para se plantar inhame depende da disponibilidade de irrigação. Onde há boa incidência de chuva, o cultivo deve ser realizado no início da estação das águas. A recomendação é se concentrar entre setembro e outubro para plantações irrigadas.
AMBIENTE - dê preferência para plantar inhame em regiões onde o clima é quente e úmido, com temperatura média entre 24 e 30 graus. Para o bom desenvolvimento da cultura, a umidade relativa do ar deve variar de 60% a 70% e a quantidade anual de chuva, entre 1.000 e 1.600 milímetros.
MATUMBOS - o cultivo de inhame em plantios domésticos é feito em covas altas, os matumbos. Utilize uma enxada manual para cavar uma área de 40 x 40 centímetros em matumbos de cerca de 30 centímetros de altura. No alto e no centro da cova, acomode a muda a dez centímetros de profundidade. Deixe 1,2 x 0,8 metro ou 1,0 x 0,8 metro de espaçamento.
CUIDADOS - pragas e doenças podem atacar o plantio de inhame. A lagarta da folhagem e a broca do caule são duas ameaças à cultura. Entre as enfermidades mais freqüentes estão a queima da folhagem, a podridão verde e a casca preta.
VARIEDADES - há diversos cultivares de inhame que são comestíveis. Entre os principais podem ser citados o são-tomé e o sorocaba, além do cará-da-costa edo cará-mandioca, que, apesar dos nomes, referem-se mesmo ao inhame.
PRODUÇÃO -
 o ciclo de produção do inhame é de aproximadamente 270 dias - quando ele atinge a maturação completa. Se as folhas da parte superior da planta apresentarem amarelamento e ficarem secas, é sinal que o inhame está pronto para ser colhido.
CAPAÇÃO - para fazer a capação, processo de retirada da túbera comercial - ou o inhame formado -, 210 dias de plantio são suficientes. Corte com uma foice pequena e com cuidado a planta na altura do ligamento com a raiz. Em seguida, feche o matumbo com uma puxada de terra para a produção das túberas-sementes que serão utilizadas no próximo plantio.

Jornalismo UFMS realiza debate sobre Candomblé e preconceito

Trazemos nesta terça-feira, caros leitores, um texto de 2009 veiculado originalmente no site www.webjornalismo.jor.br, a respeito de uma conferência que Mãe Zilá e Pai Lucas ministraram na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Naquela ocasião o intuito dos zeladores foi expor ao público leigo os principais fatores que preconizam a religião dos Orixás. Vale a pena registrar!  Asé Ibasé!

Acadêmicos do 2º ano do curso de Jornalismo da UFMS realizaram, no dia 18 de setembro, uma conferência a favor da cidadania. O trabalho, desenvolvido na disciplina de “Técnica de reportagem, entrevista e pesquisa jornalística”, abordou, dentre outros aspectos, o preconceito contra as religiões afro-brasileiras e o Candomblé enquanto patrimônio histórico e cultural. Os alunos começaram o trabalho de pesquisa jornalística em abril desse ano, e, em parceria com o professor Edson Silva, pretendem organizar um caderno de grandes reportagens. O Candomblé será um dos temas desse caderno.

O trabalho a respeito do jornalismo cultural se iniciou com as aulas teóricas e foi seguido de profunda pesquisa jornalística acerca do tema, que envolveu observação direta, entrevistas, socialização do material, conferência, e pretende terminar com a elaboração do caderno de reportagens. O caderno também terá como temas ‘Operário Futebol clube’, ‘A viagem como descoberta’ e ‘Violência contra crianças e adolescentes – Uneis’.

 A entrevistada escolhida para a primeira conferência foi Zilá Dutra, Ialorixá (ou Zeladora) da Ilè Dará Agan Oyá Asé Elégbara Omodè, casa de Candomblé visitada pelos alunos, chamada, por mãe Zilá, de barracão. O grupo responsável pelo tema se preocupou em debater o preconceito contra candomblecistas e a importância de jornalistas discutirem temas considerados tabus.


A religião

O Candomblé é uma religião originária da África, trazida ao Brasil pelos africanos escravizados na época da colonização brasileira. Nessa religião se cultuam os Orixás, que são arquétipos de uma atividade ou função, e representam as forças que controlam a natureza e seus fenômenos, como a água, o vento, a terra, as florestas e os raios. Quando os negros chegaram ao Brasil, foram proibidos de cultuarem seus deuses. Isso fez com que disfarçassem sua religião atrás de altares católicos. Talvez por isso exista, ainda hoje, um equívoco sobre o sincretismo dessa religião com os santos católicos.


O preconceito

Durante a pesquisa, os alunos se depararam com depoimentos de pessoas que têm receio de admitir, na empresa onde trabalham, que são candomblecistas, por medo de serem taxadas de maus e perderem seus empregos. O preconceito atinge também as crianças: “Uma de nossas crianças foi pra escola com um kele, que é uma espécie de colar. Para as pessoas não ficarem olhando, a gente enrola ele com um paninho branco e as crianças têm que ir pra escola daquele jeito durante seu processo de resguardo. E aconteceu o quê? A professora, evangélica, falou pro menino que ele era filho do capeta e não queria que ele frequentasse as aulas”, relata a Ialorixá. Zilá afirma, ainda, que, em seu barracão, as crianças não se abalam com isso, pois recebem argumentos suficientes para se defender. O que não significa que possam ser discriminadas, afinal, a Constituição brasileira assegura, a todos, a liberdade de culto.


O papel do jornalista

É importante para o futuro jornalista aprender a se despir de qualquer preconceito sobre qualquer assunto, pois o papel de um comunicador social é representar os interesses do cidadão e ouvir e observar os mais diversos fatos. Lucas Junot, Babalaxé (pai do axé) do Ilè Dará e acadêmico de Jornalismo na UFMS, destaca a importância do trabalho dos colegas: “O jornalista pode mostrar que o Candomblé vai muito além da ideia que as pessoas têm dele. Se alguém fizesse um vídeo de um Candomblé de forma correta e passasse isso na televisão, com uma única frase, ‘Candomblé é isso!’, eu garanto pra você que as coisas mudariam bastante”.


O professor da disciplina de Técnicas de Reportagem, Edson Silva, também coordenador da conferência, reafirma que “é muito interessante falar pra jornalistas, ou estudantes de jornalismo. É bom falar pra médico? É. É muito bom falar pra advogado? É. Mas o advogado fala pra poucos, o jornalista fala pra milhões”. Trata-se de um risco grande, se houver deturpação da informação, mas também é a possibilidade de fazer com que a informação, bem apurada e de qualidade, chegue corretamente à população. “Nosso papel na Universidade é despertar a sensibilidade e oferecer a oportunidade de o aluno conhecer determinado assunto”, garante o professor Edson.


Autor: Thaysa Freita

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Alerta aos religiosos de matriz africana e cultos ameríndios

Caros amigos e irmãos de fé, trago nesta segunda-feira um texto que foi publicado no jornal paulista "Folha Metropolitana", onde o senhor Castelo Hanssen discorre sobre o Projeto de Lei 3030 de 2005, de autoria do vereador Wagner Freitas, que  tramita na Câmara Municipal de Guarulhos. O fato é que alguns vereadores estão prevendo uma alteração na lei do vereador José Luís que proíbe espetáculos com animais. O projeto visa ainda PROIBIR O SACRIFÍCIO DE ANIMAIS NOS CULTOS RELIGIOSOS. Veja abaixo o texto:

"Liberdade de culto sim, Crueldade não

Por Castelo Hanssen

A Câmara Municipal de uma cidade da Grande São Paulo aprovou há tempos um projeto de lei proibindo o sacrifício de animais nos cultos religiosos em que essa prática é decorrente. Não faltaram vozes iradas acusando os vereadores de estarem praticando ato contra a liberdade de culto. Outros, mais irados os acusaram de racismo, pois tais cultos são de origem africana. Grande besteira, pois esses cultos são praticados por pessoas de todas as etnias, da mesma forma que a Igreja Católica Apostólica Romana não é praticada apenas por latinos.

Este escrevinhador entende que os vereadores daquela cidade estão corretíssimos. Há que se preservar toda liberdade de cultos e de culturas, mas todo ato de crueldade deve ser banido, se possível através de conscientização e convencimento. Do contrário, deveriam ser permitidas práticas de bruxaria, muitas vezes com sacrifícios de pessoas humanas. Todas as civilizações primitivas cometem ou cometeram atos de crueldade. Os deuses primitivos eram cruéis e exigiam sacrifício para não punir os mortais. A vida era difícil e as pessoas precisavam ser fortes e insensíveis para sobreviver. Mas já estamos no Terceiro Milênio, está na hora de acabar com o culto à violência e força física.

A crueldade contra animais tem sido condenada através de lei. O abate de animais para consumo (já que a cadeia alimentar é uma lei natural) deve ser praticada com menos sofrimento possível. Pseudo esportes que implicam em crueldade, como rinha de galos, touradas e outros já são proibidos no Brasil. Até na Espanha, onde as touradas são tradição cultural, esse esporte começa a ser combatido por leis regionais. Enquanto redijo esse artigo, tramita na Câmara Municipal de Guarulhos o projeto de lei 3030 de 2005, de autoria do vereador Wagner Freitas, prevendo uma alteração na lei do vereador José Luís que proíbe espetáculos com animais.


O projeto altera o artigo 26, de forma a permitir a realização de rodeios e cavalhadas. Os rodeios no Oeste americano e as festas do peão de boiadeiro no interior do Brasil originam-se na doma de potros selvagens ou redomãos. Mas hoje o espetáculo é realizado com animais domesticados, mansos, e para que eles se revoltem e tentem derrubar os peões são submetidos a maus tratos. Essa tradição não pode ser mantida se quisermos ser considerados povos civilizados. Faço um apelo aos vereadores Gileno, Zuquila e Unaldo, da Comissão de Esportes e Lazer da Câmara, para que deem parecer contrário ao projeto, para que ele não vá à Ordem do Dia. Se for, espero que a maioria dos nossos representantes o rejeitem."


Fonte: Folha Metropolitana


*Aristides Castelo Hanssen (São Paulo, 3 de setembro de 1941) é um jornalista brasileiro. É fundador do Colégio Brasileiro de Poetas de Mauá, do grupo Literário Letraviva de Guarulhos e da Academia Guarulhense de Letras. É presidente honorário da Sociedade Guarulhense de Cultura Artística.

ENTENDA O CASO
Veja ainda o texto publicado no site da Câmara Municipal de Guarulhos no dia 14 de abril de 2011:


Vereadores discutem liberação de animais em espetáculos

Vereador Wagner Freitas defende a alteração possibilitanto a realização dos eventos
A possibilidade ou não de Guarulhos abrigar espetáculos com a utilização de animais voltou a ser debatida na Câmara Municipal de Guarulhos. Desde 2004, uma lei de autoria do vereador José Luiz Ferreira Guimarães (PT) impede o uso de qualquer espécie de animal em atividades de entretenimento.

Em contrapartida, desde 2005, o vereador Wagner Freitas (PR) tenta aprovar uma nova legislação suprimindo o artigo 26 da lei nº 6033/2004, que trata do Código de Zoonoses, banindo especificamente a expressão: rodeios e cavalhadas. No momento, o projeto está nas Comissões Técnicas para análise e emissão de parecer credenciando o texto a ir à votação em plenário.

Se o projeto for aprovado, todos os espetáculos, inclusive circenses, que se apresentarem em Guarulhos, poderão utilizar animais. Wagner Freitas é ligado aos grupos que participam e gostam de rodeios.

Em 2009, o projeto chegou a ser pautado e rejeitado. Na ocasião, houve manifestações na Câmara Municipal, tanto de grupos contrários à utilização de animais, quanto de adeptos dos rodeios. Durante audiência pública realizada, às vésperas de o projeto ir à votação, a discussão entre os grupos pró e contra foi acirrada. Especialistas estiveram na Câmara e debateram sobre o tema. A maioria criticou o uso de animais.

Nesta semana, a discussão voltou à Ordem do Dia. Na terça-feira, Conceição Aparecida de Azevedo, ativista de defesa dos Direitos dos Animais, ocupou a Tribuna Livre pedindo a rejeição do projeto assinado por Freitas. “Pesquisas feitas no mundo todo mostram que as pessoas não vão a festas para ver os animais sendo torturados, mas sim seus artistas preferidos. Eles dizem que o animal é bem tratado, mas não é. Os animais são torturados na arena. Não queremos mais essa violência”, disse ela.

DEBATE TÉCNICO

O autor do projeto garante querer um debate técnico sobre o tema. “Não quero que resvale para a questão pessoal. Tem de haver respeito acima de tudo”, disse ele. Segundo Freitas, rodeio é esporte federal, portanto já existe legislação e ela deve ser respeitada. “O julgamento do rodeio aqui é meramente político. Defendo o rodeio porque está no meu coração”, afirmou.

Na tribuna, o vereador reclamou do fato de vir recebendo ofensas, por meio de mensagens eletrônicas, por ser ele autor do projeto e defensor dos rodeios. “Eu respeito quem não concorda com o rodeio, mas não fique me ofendendo”, disse.

Segundo Freitas, a bancada nacional do PT apoia o rodeio e manda recursos federais para as cidades de todo o país onde esses eventos são realizados. Ele disse que dará um prazo de 15 dias para parar as ofensas, do contrário tomará outras atitudes.

CUSTO ALTO

Do outro lado, a vereadora Luiza Cordeiro (PC do B) defende que as cidades onde a prática de rodeio é comum, devem encontrar novas formas de movimentar a economia. “Ficou claro na audiência pública realizada em 2009, por meio de dados técnicos e científicos, que os animais têm a mesma estrutura anatômica do ser humano. Normalmente, os animais não corcoveiam, nem pulam nos pastos ou nos seus habitats naturais”, disse ela.

Para Luiza, isso só ocorre quando eles são submetidos a instrumentos que provocam profunda dor como nas atividades de rodeio. “O ser humano não pode se divertir a custa do desespero e maus tratos aos animais”, concluiu.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Descoberto Porto de Tráfico de Africanos no Rio

O Cais do Valongo, foi o maior porto de chegada de escravos do mundo

Tesouros do Brasil Imperial estão sendo revelados por uma obra de drenagem na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Há pouco mais de um mês funcionários da prefeitura carioca encontraram duas importantes referências do século XIX: o Cais do Valongo – onde desembarcaram mais de um milhão de negros escravizados; e o Cais da Imperatriz – construído para receber Teresa Cristina, que se casaria com Dom Pedro II.
O tesouro arqueológico estava escondido sob a Avenida Barão de Tefé da Zona Portuária há pelo menos um século. A estrutura do antigo Cais da Imperatriz surgiu com as escavações para a revitalização do local e, logo abaixo dele, surgiram também evidências do que seria o Cais do Valongo, o maior porto de chegada de escravos do mundo.
No início, a equipe do Museu Nacional / Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que acompanhava a obra não tinha sequer certeza da existência do Valongo. “Não sabíamos se havia sido completamente destruído ou se dele restava ainda algum vestígio”, afirmou Tânia Andrade Lima, pesquisadora responsável pelas escavações, em documento encaminhado à Fundação Cultural Palmares.

Segundo o relatório, os achados representam mais que as pedras lavradas que compõem os calçamentos dos cais. Foram encontrados vestígios de cultura de grupos africanos e afrodescendentes, como cachimbos de cerâmica, búzios usados em práticas religiosas e botões produzidos a partir de ossos de animais. A descoberta é considerada de grande relevância para o resgate e a manutenção das memórias da cidade e do país.

Agora, o governo carioca pretende mostrar ao mundo o lugar onde desembarcaram milhares de homens, mulheres e crianças vindos de África para mudar definitivamente a face e a cultura do povo brasileiro. Para isso já se fala na criação de um memorial que armazene o material encontrado e o histórico da rotina que se seguiu da chegada à venda dos escravizados.

Enquanto as possibilidades são discutidas, a idéia é integrar as descobertas históricas ao novo desenho urbano local, criando um centro de visitação. Já os trabalhos de identificação, caracterização e preservação seguem minuciosos nos laboratórios da UFRJ, ao mesmo tempo em que a prefeitura instala as novas galerias pluviais, desviando o percurso das manilhas, para não destruir o antigo cais.

Fonte / Imagem: Museu Nacional-UFRJ (publicado originalmente no Jornal A Gaxéta)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Os Orixás e a Natureza


Caros amigos, irmãos de fé e leitores do Ilè Dará, trago hoje um texto riquíssimo sobre Onilé, o senhor ou senhora da terra. Faço a distinção de gêneros porque alguns sacerdotes atribuem à essa entidade o gênero feminino e outros o gênero masculino. Apenas a título de curiosidade explico: Os prefixos Oni (não confundir com Òni, que significa crocodilo, jacaré) e Olo, mostram-se no idioma Yorubá como meio de exaltação, ênfase, e muitas vezes traduzem-se como senhor de, senhora de. Por exemplo, na palavra olójà, subs., que significa pessoa de classe, diretor, título de chefe, supervisor; Olójo, subs., dono ou mestre do tempo; Ou mesmo em na religião dos Orixás, quando dizemos: Ogum Onirè, senhor de Irè, chefe, soberano, ou Oyá Onirá, senhora de Irá, terra em que se passam muitas das histórias desse Orixá, da mesma forma acontece com Onilé, por não haver distinção de gênero na exaltação do posto da divindade, existem duas vertentes distintas sobre ser essa divindade a senhora ou o senhor da terra. Espero que aproveitem o texto. Atenciosamente, Pai Lucas de Odé.

Neste clima de “retorno ao mundo natural”, de preocupação com a ecologia, um orixá quase inteiramente esquecido no Brasil vem sendo aos poucos recuperado. Trata-se de Onilé, a Dona da Terra, o orixá que representa nosso planeta como um todo, o mundo em que vivemos. O mito de Onilé pode ser encontrado em vários poemas do oráculo de Ifá, estando vivo ainda hoje, no Brasil, na memória de seguidores do candomblé iniciados há muitas décadas. 

Assim a mitologia dos orixás nos conta como Onilé ganhou o governo do planeta Terra: 

Onilé era a filha mais recatada e discreta de Olodumare. Vivia trancada em casa do pai e quase ninguém a via. Quase nem se sabia de sua existência. 

Quando os orixás seus irmãos se reuniam no palácio do grande pai para as grandes audiências em que Olodumare comunicava suas decisões, Onilé fazia um buraco no chão e se escondia, pois sabia que as reuniões sempre terminavam em festa, com muita música e dança ao ritmo dos atabaques. Onilé não se sentia bem no meio dos outros. 

Um dia o grande deus mandou os seus arautos avisarem: haveria uma grande reunião no palácio e os orixás deviam comparecer ricamente vestidos, pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo e depois haveria muita comida, música e dança. 

Por todo os lugares os mensageiros gritaram esta ordem e todos se prepararam com esmero para o grande acontecimento. 

Quando chegou por fim o grande dia, cada orixá dirigiu-se ao palácio na maior ostentação, cada um mais belamente vestido que o outro, pois este era o desejo de Olodumare. 

Iemanjá chegou vestida com a espuma do mar, os braços ornados de pulseiras de algas marinhas, a cabeça cingida por um diadema de corais e pérolas, o pescoço emoldurado por uma cascata de madrepérola. 

Oxóssi escolheu uma túnica de ramos macios, enfeitada de peles e plumas dos mais exóticos animais. 

Ossaim vestiu-se com um manto de folhas perfumadas. 

Ogum preferiu uma couraça de aço brilhante, enfeitada com tenras folhas de palmeira. 

Oxum escolheu cobrir-se de ouro, trazendo nos cabelos as águas verdes dos rios. 

As roupas de Oxumarê mostravam todas as cores, trazendo nas mãos os pingos frescos da chuva. 

Iansã escolheu para vestir-se um sibilante vento e adornou os cabelos com raios que colheu da tempestade. 

Xangô não fez por menos e cobriu-se com o trovão. 

Oxalá trazia o corpo envolto em fibras alvíssimas de algodão e a testa ostentando uma nobre pena vermelha de papagaio. 

E assim por diante. Não houve quem não usasse toda a criatividade para apresentar-se ao grande pai com a roupa mais bonita. Nunca se vira antes tanta ostentação, tanta beleza, tanto luxo. Cada orixá que chegava ao palácio de Olodumare provocava um clamor de admiração, que se ouvia por todas as terras existentes. Os orixás encantaram o mundo com as suas vestes. Menos Onilé. 

Onilé não se preocupou em vestir-se bem. Onilé não se interessou por nada. Onilé não se mostrou para ninguém. Onilé recolheu-se a uma funda cova que cavou no chão. 

Quando todos os orixás haviam chegado, Olodumare mandou que fossem acomodados confortavelmente, sentados em esteiras dispostas ao redor do trono. 

Ele disse então à assembléia que todos eram bem-vindos. Que todos os filhos haviam cumprido seu desejo e que estavam tão bonitos que ele não saberia escolher entre eles qual seria o mais vistoso e belo. Tinha todas as riquezas do mundo para dar a eles, mas nem sabia como começar a distribuição. 

Então disse Olodumare que os próprios filhos, ao escolherem o que achavam o melhor da natureza, para com aquela riqueza se apresentar perante o pai, eles mesmos já tinham feito a divisão do mundo. 

Então Iemanjá ficava com o mar, Oxum com o ouro e os rios. A Oxóssi deu as matas e todos os seus bichos, 

reservando as folhas para Ossaim. Deu a Iansã o raio e a Xangô o trovão. Fez Oxalá dono de tudo que é branco e puro, de tudo que é o princípio, deu-lhe a criação. Destinou a Oxumarê o arco-íris e a chuva. A Ogum deu o ferro e tudo o que se faz com ele, inclusive a guerra. E assim por diante. 

Deu a cada orixá um pedaço do mundo, uma parte da natureza, um governo particular. Dividiu de acordo com o gosto de cada um. E disse que a partir de então cada um seria o dono e governador daquela parte da natureza. 

Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade relacionada com uma daquelas partes da natureza, deveria pagar uma prenda ao orixá que a possuísse. Pagaria em oferendas de comida, bebida ou outra coisa que fosse da predileção do orixá. 

Os orixás, que tudo ouviram em silêncio, começaram a gritar e a dançar de alegria, fazendo um grande alarido na corte. 

Olodumare pediu silêncio, ainda não havia terminado. Disse que faltava ainda a mais importante das atribuições. Que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra, o mundo no qual os humanos viviam e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais que deveriam ofertar aos orixás. 

Disse que dava a Terra a quem se vestia da própria Terra. 

Quem seria? perguntavam-se todos? 

“Onilé”, respondeu Olodumare. 

“Onilé?” todos se espantaram. 

Como, se ela nem sequer viera à grande reunião? 

Nenhum dos presentes a vira até então. Nenhum sequer notara sua ausência. 

“Pois Onilé está entre nós”, disse Olodumare e mandou que todos olhassem no fundo da cova, onde se abrigava, vestida de terra, a discreta e recatada filha. 

Ali estava Onilé, em sua roupa de terra. Onilé, a que também foi chamada de Ilê, a casa, o planeta. 

Olodumare disse que cada um que habitava a Terra pagasse tributo a Onilé, pois ela era a mãe de todos, o abrigo, a casa. A humanidade não sobreviveria sem Onilé. Afinal, onde ficava cada uma das riquezas que Olodumare partilhara com filhos orixás? 

“Tudo está na Terra”, disse Olodumare. “O mar e os rios, o ferro e o ouro os animais e as plantas, tudo”, continuou. “Até mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-íris, tudo existe porque a Terra existe, assim como as coisas criadas para controlar os homens e os outros seres vivos que habitam o planeta, como a vida, a saúde, a doença e mesmo a morte”. 

Pois então, que cada um pagasse tributo a Onilé, foi a sentença final de Olodumare. 

Onilé, orixá da Terra, receberia mais presentes que os outros, pois deveria ter oferendas dos vivos e dos mortos, pois na Terra também repousam os corpos dos que já não vivem. Onilé, também chamada Aiê, a Terra, deveria ser propiciada sempre, para que o mundo dos humanos nunca fosse destruído. 

Todos os presentes aplaudiram as palavras de Olodumare. Todos os orixás aclamaram Onilé. Todos os humanos propiciaram a mãe Terra. 

E então Olodumare retirou-se do mundo para sempre e deixou o governo de tudo por conta de seus filhos orixás. 

Cultuada discretamente em terreiros antigos da Bahia e em candomblés africanizados, a Mãe Terra desperta curiosidade e interesse entre os seguidores dos orixás, sobretudo entre aqueles que compõem os seguimentos mais intelectualizados da religião. Onilé é assentada num montículo de terra vermelha e acredita-se que guarda o planeta e tudo que há sobre ele, protegendo o mundo em que vivemos e possibilitando a própria vida. Na África, também é chamada Aiê e Ilê, recebendo em sacrifício galinhas, caracóis e tartarugas (Abimbola, 1977: 111). Onilé, isto é, a Terra, tem muitos inimigos que a exploram e podem destruí-la. Para muitos seguidores da religião dos orixás, interessados em recuperar a relação orixá-natureza, o culto de Onilé representaria, assim, a preocupação com a preservação da própria humanidade e de tudo que há em seu mundo. 

- Reginaldo Prandi - 

terça-feira, 12 de abril de 2011

A Iniciação de Crianças nos Cultos Afro-brasileiros

Em novembro do ano passado, zeladores de Candomblé, em parceria com o Jornal A Gaxéta promoveram um debate para discutir com advogados e interessados, a confusa situação da INICIAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES perante a Lei, e assim, perceber caminhos de como defender ou garantir o direito de iniciar e da participação de jovens, nos Cultos Afros.  

Os argumentos apresentados foram:

1- Necessidade de uma interferência espiritual em casos de urgência ou doenças;

2- A Liberdade e o direito dos pais de levarem seus filhos aos cultos de suas preferências;
“Eu tenho meu filho. Ele nunca participou literalmente de uma Casa de Axé. Agora, se meu filho participasse desde pequeno, o Culto dos Orixás seria natural para ele. E seria meu direito, levar meu filho para a minha religião, pois o evangélico leva, o católico leva, o judeu leva, desde criança. Por que nós não podemos?”, argumenta Mãe Angélica.

Para Pai Flávio, não há porquê de uma ‘marcação tão rigorosa’ dos Conselhos Tutelares, nos Terreiros, se as milhares crianças estão abandonadas na rua, principalmente na Cracolândia. “Os Conselhos Tutelares deveriam estar mais atentos às crianças e jovens e cumprir o real papel, para o qual foram criados”, diz Pai Flávio.

As explicações Jurídicas

– A Lei, perante as crianças e jovens, nos Terreiros.

Dra Fátima diz: “De acordo com o que me foi dito em nosso contato inicial, você estava precisando saber se existia alguma solução para a iniciação de crianças e adolescentes. Baseado nisso, eu cheguei até a conversar com o Dr. Sérgio Marrina, Juiz da Vara da Infância e Juventude, já que existe um confronto muito grande entre a casa de Candomblé e a Legislação, que segundo o magistrado não há nenhum caso de interferência dos conselhos tutelares em atos religiosos, na Vara da Criança e do Adolescente.

A gente tem o principio da liberdade religiosa. A Constituição Federal nos garante isso. Agora, nós encontramos alguns confrontos: Temos o problema do recolhimento. Essa criança tem que ficar incomunicável a não ser com pessoas da religião que podem ter contato com ela. Então se você tiver acesso à legislação, o artigo 148 (Código Penal) traduz esse recolhimento como cárcere privado, ou seja, já há um choque muito grande aí. Aparece um outro que menciona ‘Lesão Corporal’ (as curas que são feitas no Iyawo). Se você confrontar com a legislação, trata-se de uma lesão corporal – de natureza leve – mas é uma lesão corporal. Existe uma outra situação que pode ser atribuída ao Pai – de- Santo: onde tem três ou mais pessoas reunidas, pode-se interpretar como formação de quadrilha. 

E em uma cerimônia de feitura, há sempre três ou mais pessoas reunidas. Esse é um confronto que se apresenta entre a religião e a legislação, apesar da Constituição Federal garantir que todos têm liberdade religiosa. Se você tiver acesso ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), ele também te mostra esse confronto em determinados momentos. Porém, cita que é obrigação e dever de todo o pai trazer orientação educacional e também religiosa à criança (Art 82).

Nós começamos a encontrar alguns problemas a partir do artigo V (ECA), em que ele fala em violência, crueldade, opressão. Por exemplo, se uma mãe trás seu filho para ser iniciado no Culto Afro-Brasileiro, e o pai não pertence à religião e por isso entra com uma denúncia, será utilizado o artigo V, em decorrência das curas, falta de comunicação com a criança, que está ‘trancada’ dentro de um quarto. Percebe-se então que o ECA também se confronta com a religião.

Numa outra citação, o ECA menciona que a criança não pode adentrar hotéis, motéis ou estabelecimentos similares, se desacompanhado dos pais. Então se questiona: e se essa criança vier a ser recolhida com a mãe ou junto com o pai? Você pode entender então que estando o pai ou a mãe, ou ambos, em companhia de uma criança em sua iniciação, não haveria problema algum em se dar prosseguimento ao ato religioso. Esta pode ser a defesa para que a Casa Religiosa possa seguir. Ou na ausência dos pais, estes assinam uma autorização pormenorizada: nome dos pais, qualificação completa, o nome da Entidade, firma reconhecida das duas assinaturas. Isso evitaria que se sofresse uma denúncia? Não, não evitaria, porém, trata-se de uma defesa, de um documento comprobatório.

No caso de pais separados, se o responsável pela guarda da criança estiver acompanhando o momento religioso, não haveria problema também. No caso da criança estar acompanhada de um dos pais que não tenha a guarda, será necessária a permissão daquele que é o responsável por esta guarda.”

Ao ser indagada a respeito da autoridade dos Conselhos Tutelares ser superior a de Juízes no sentido de tomar uma decisão sobre interromper uma iniciação sob a alegação dos direitos da criança estarem sendo infringidos, Dra. Fátima afirmou que estes não tem esse poder, mas sim de encaminhar o caso, baseado em denúncia e constatação, ao juiz. Dr. Anivaldo alertou que, em caso de invasão de um Templo, por um Conselho Tutelar, no sentido de coibir ou interromper um ato religioso aplicado em uma criança ou adolescente, a situação deverá ser comunicada de imediato à Vara da Infância por aquele Conselho, pois caso não o faça, pode-se agir no sentido de dissolver este conselho.

Não existe, segundo Dra. Fátima, como evitar a denúncia, ou como evitar abertura de inquérito para investigar todo esse passo, mas existem defesas com base no ECA. “Hoje eu diria para quem quer recolher: peça uma autorização.” Ela elaborou um termo de autorização bem pormenorizado com o nome dos pais e sua qualificação (casado, solteiro, etc), RG, CPF, se o casal vive junto em um mesmo endereço, se não, o endereço de cada um. Deverá ser reconhecida firma, pois este documento permanecerá na casa. Deverão ser citados os dados da criança, o número do RG, já que em sua maioria, as mesmas já possuem este documento. Portanto os pais estarão autorizando o menor a participar da iniciação ao culto religioso “candomblé”, a ser realizado no (nome da casa), situado (endereço completo) pelo Sacerdote (nome completo), no período compreendido entre (citar datas de inicio e término), ou seja, X dias.

Dra. Fátima entende ser de extrema importância que o seguinte texto também seja incluído no termo: “Estamos cientes que durante o período acima mencionado, o menor deverá permanecer incomunicável com pessoas alheias à religião, autorizando inclusive o procedimento dos banhos, curas, respeitando-se assim a liturgia pertinente ao culto religioso.”

Conclusão: Não há parâmetros que impeçam objetivamente a iniciação de crianças e adolescentes.
Inibir a invasão por Polícia ou Conselho Tutelar, embasados em possíveis denúncias por parte da comunidade, pode não ser possível pelo repente da situação. Mas, caso a permanência do menor em recolhimento religioso, esteja devidamente autorizado, como anteriormente citado, medidas legais poderão ser adotadas pelo Líder Religioso, ou as partes que foram constrangidas. O que após discussão entre os presentes pareceu estar ocorrendo, é que, pelo fato de Delegados de Polícia e o próprio Conselho Tutelar terem o poder de inibir a população, os mesmos, adentram os locais religiosos, interrompem os atos, retiram a criança e não dão prosseguimento ao assunto, ou seja, têm o objetivo de inibir um ato sagrado, que não pode ser interrompido, baseado em denúncias, e que por sua vez são embasadas em preconceito e Intolerância Religiosa.

Através de diversas ocorrências que vem sendo observadas em diversas áreas do país, em que o Poder Público passa a inibir situações baseadas ou ligadas aos Cultos Afro-Brasileiros, percebe-se claramente que a própria lei, estatutos, regimentos e outros, nunca tiveram em sua redação, itens que fossem favoráveis a Religiosos Afro-Brasileiros. Um exemplo bastante presente é o próprio ECA, que possui itens que, se chocam com os procedimentos ligados à iniciação de crianças nos Cultos Afro, como citado acima.

Mídia Nacional boicota “Mães de Chico Xavier”

Numa clara demonstração de contrariedade à Mensagem Pró-vida, que se opõe ao aborto

Postado originalmente no portal do Jornal A Gaxéta - SP

Na luta em defesa da vida no Brasil um dos grandes adversários sempre foi a mídia, incluindo aí, os grandes Jornais Nacionais. No caso agora do Filme intitulado "As mães de Chico Xavier" é notório o terrível silêncio de boicote da mídia nacional em razão da forte mensagem pró-vida, especialmente, no que diz respeito ao aborto. Alguns críticos têm dito aos produtores e divulgadores que este filme é uma peça de publicidade contra a legalização do aborto e, por isso mesmo, afirmam que sua mensagem é moralista, fundamentalista, conservadora e retrógrada.

Essa maneira de pensar não é novidade nenhuma para quem milita na defesa da vida e está acostumado a enfrentar os obstáculos da grande mídia, que é claramente pró-aborto, servindo desta forma, aos interesses do movimento pela legalização do aborto em nosso país. Por outro lado, houve quem, como profissional da imprensa, olhasse o filme por um outro ângulo. Fato é que não podemos permitir que este filme saia de cartaz sem alcançar um patamar de milhões de brasileiros a assisti-lo. O pano de fundo do seu roteiro é, evidentemente, espiritualista, mas o que fica na mente das pessoas que já viram é a sua profunda e corajosa mensagem em defesa da vida, apresentada pela vivência sofrida de 3 mães que expressa no olhar doce e amoroso, forte e determinado, ao buscar dentro de si mesmas a força necessária para romper com os obstáculos que feriam, de morte, a sua maternidade, encontrando na figura doce de Chico Xavier a resposta para as suas angústias frente à dor da perda ou da possibilidade de perder um filho.

Num mundo marcado pela violência, esse filme nos impulsiona, ainda mais, a continuar firmes em nossas lutas pela causa da defesa da vida, de maneira incondicional. Portanto, amigos e amigas PRÓ-VIDA DO BRASIL se lotarmos as salas de cinema nesta semana e no próximo fim de semana, estaremos dando uma resposta à mídia brasileira que grita pela liberdade de expressão só quando estão em jogo os seus interesses, nem sempre éticos e democráticos. Por isso, vamos prestigiar este belíssimo trabalho que têm como objetivo contribuir para maior conscientização dos brasileiros de que o direito à vida, independe da opção religiosa de cada um. 

Fonte: Trechos do texto de Jaime Ferreira Lopes - Militante Pró-vida

A Grande Mãe e o poder Feminino - Iyami

Texto cedido pela irmã e amiga Iyalorisá Leoni


A virtude de poder trazer filhos ao mundo que têm as mulheres, um fato quase mágico, maravilhoso que as acerca ao divino, é e foi também motivo de temor em muitos povos antigos, algo que era inexplicável, pelo qual as mulheres sempre foram vistas como possuidoras de certo poder especial.
 
Fala-se da famosa "intuição feminina", mas mais do que nada, em todas as culturas há uma tendência a transformá-la em "bruxa", no sentido de crer que tem poderes inatos para comunicar-se com forças além do alcance do entendimento do homem. O mito da "bruxa" que voa na vassoura acompanhada por pássaros macabros é quase mundial, com pequenas diferenças segundo o lugar do mundo do qual falemos. 

Também se relaciona a fecundidade com o misterioso sangue menstrual, que é a marca que pauta a conversão da menina numa mulher, daí em mais será considerada também uma Iyami, aquela que em qualquer momento deixará de ter a regra, inchando-se o ventre, revelando que tinha em seu interior a "cabaça da existência", o caminho pelo qual todos vêm do Orun para o Aye. Mais para confirmar dita transformação em "mulher", levam-se a cabo os "ritos de passagem" nos que as meninas-mulheres estarão isoladas durante vários dias, alimentadas e vestidas de um modo especial, onde conhecerão todos os segredos relacionados com as mulheres, os que serão devidamente dados pelas anciãs de sua comunidade. 

Os ritos assegurarão entre outras coisas que seja possuidora de uma "cabaça” fértil e o alinhamento de seu lado espiritual feminino com seu corpo, convertendo-a numa mulher em todo sentido. Há ao final uma apresentação em público das garotas que deixaram atrás a etapa da meninice, para que os homens lhes tenham em conta no momento de querer escolher uma esposa. 

A palavra Iyami por si só, em realidade não identifica à mulher com o lado escuro de seu poder, muito pelo contrário é um modo de exaltar e homenagear sua capacidade de engendrar apelando a seu lado protetor maternal, pois significa: "Minha mãe". Esta forma de referir-se a qualquer mulher expressa um sentido de reverência àquela que serve de ponte entre os antepassados e os vivos, bem como também reflete seu importante papel maternal. Desse modo todas as divindades femininas são chamadas também Iyami, mais não no sentido de "bruxas" senão por tratar-se de uma homenagem verbal às grandes MÃES ESPIRITUAIS. 

Embora a mulher seja fértil (ao menos em teoria por ter a regra), não se lhe considera apta para encarregar-se de certos aspectos importantes dentro das religiões africanistas, por muitos motivos, os principais não podem revelar-se aqui por tratar-se de um conhecimento que só devem possuir sacerdotes que adquiriram certo status na comunidade. Mais algumas razões práticas têm a que ver com o atendimento constante que requer o culto e uma mulher não pode dedicar-se por inteiro ao mesmo já que segue tendo a regra, pois devem abster-se do contato com as divindades durante esse período e no caso de ficar grávida, durante os últimos meses, o parto e a posterior quarentena (sem contar que depois por vários meses todo seu atendimento deve ser para o bebê). 

Quando se fala de Iyami Osoronga  muda bastante o conceito antes exposto, pois se refere ao mito sobre o poder feminino associado às AVES a partir de certas espécies que atracaram a mente do homem por sua rareza ou comportamentos macabros. Ainda que também não isolado das mulheres ou dos Orisas o mito Iyami se relaciona com estas por seus estômagos, mais precisamente com seu útero, ao qual sempre nos referimos como Igba Iwa (a cabaça da existência). Trata-se da comparação metafórica entre um ovo fecundado e a barriga da mulher grávida, onde se costuma dizer que a mulher tem o “poder do pássaro encerrado na cabaça”. 

No útero da mulher não se vê a simples vista ao bebê, mas sim se sentem seus movimentos, enquanto no ovo (de uma galinha, por exemplo) não se aprecia o movimento, mas se pode ver a depois de luz ao filhote, em ambos os casos se pode apalpar a fecundidade e o surpreendente poder "mágico" que isto implica. 

O mito Iyami Aye então, não é o culto às mulheres bruxas nem às aves macabras, senão que é a associação mágica e metafórica entre o poder feminino da fecundação e o poder místico de algumas aves noturnas (principalmente) que somado a certos temores e sentimentos negativos dos seres humanos cria no espaço etéreo os Espíritos Coletivos das Eleye (donos das aves) ou Iyami Ajé (Minha mãe feiticeira) ou mesmo Iyami Osoronga, todas estas denominações que aludem ao mesmo. 

Estes espíritos são impessoais, nunca tiveram corpo humano nem o terão, fazem parte do homem e a natureza ao mesmo tempo, espécie de "parasitas" que aparece junto com o homem no mundo por causa de sua existência, não têm consciência, são alimentados pela idéias malignas e os temores, por isso se tornam consideravelmente perigosos no plano astral. Podem ter sexo masculino ou feminino e sempre vem em casal, representando o equilíbrio, a dualidade existente em todos os planos, inclusive no de nossos próprios temores mais escuros. 

A crença popular yoruba se crê que têm forma humanóide com plumas, mais nunca se representam em imagens ou gravuras, só se intui seu poder através dos pássaros, os que majoritariamente são usados como símbolos nas bengalas metálicas (osun) dos Babalawos ou nas coroas dos Obas, representando que o possuidor tem a autoridade para acalmar-lhes e que para ganhar tal titulo primeiro teve que render homenagem ao Poder Feminino. As Iyami Aje atuam sob a supervisão de Oso e têm estreita relação com outros Orisa como Ogun que é o dono dos sacrifícios e quem provê o sagrado líquido pertencente à Eléye . 

Quando há uma influência negativa por parte dos Eleye masculinos se diz que são os Oso quem estão trabalhando na contramão da pessoa, ainda que nunca haja um culpado externo responsável destes ataques, pois em verdade sempre é a própria pessoa que muitas vezes ganha "o castigo" através de seu comportamento. As Eleye  são executoras da lei num sentido inverso, isto é, procurar o bem a partir do mau. 

Toda pessoa que tenha certa inclinação às características negativas para os demais está alimentando estas forças e ao mesmo tempo antevendo o mau perigosamente, o que em longo prazo  faz com  que a própria energia negativa da pessoa se converta em seu próprio juiz, Iyami Osoronga posará suas patas em cima de sua cabeça. 

Não há nenhum ebo capaz de vencer o trabalho destes Espíritos, o único que se pode no máximo é apaziguar-lhes e isso é porque "vivem" em nossas entranhas, em estado latente. Sua função se torna importante, pois apesar de ser "inimigas" das pessoas tendem a regular o comportamento do Ser Humano através de seus medos. Quem deseja que Iyami Osoronga não se torne um obstáculo em sua vida deve frear os sentimentos de inveja, ciúmes, rancor, bem como qualquer pensamento negativo para seus semelhantes. 

Crê-se que as Iyami se reúnem em assembléia numa mesa presidida por  Oso , onde  se conspiraria e especularia sobre as maldades a realizar enviando os Ajogun após o questionamento se foi feito  ou não os *ebo marcados por Babalawos através de Ifa, deste modo servem de reguladores do comportamento frente às dívidas geradas ante as divindades, por causa de ter rompido o equilíbrio existente de alguma maneira seja numa vida anterior ou na presente. A Iyami Aye pertence toda sangue derramado na terra e também são quem controlam o sangue menstrual a que quando aparece revela a presença próxima destas criaturas, o que explicaria as dores típicas e o comportamento histérico que costuma ter as mulheres nessa etapa. Isto também é outra razão pela qual nos sacrifícios para Orisa o sangue não deve tocar a terra - existindo um método ritual que evita isso - e por que a mulheres com sua regra devem manter-se afastadas do culto. Ao suceder qualquer das duas coisas ou ambas, seria um tabu e a cerimônia estaria quebrada, devendo conferir ao oráculo por alguma solução. Costuma-se oferecer-lhes preferencialmente as vísceras, pois se considera que é sua comida favorita, as que se preparam sempre depois de qualquer sacrifício para os Orisa de um modo especial e são apresentadas em pratos de barro forrados come ewe Lara.Os etutus para iyami são conhecidos como Iyala  e significa "que o mal desapareça". Se lhes oferece também, durante qualquer sacrifício, um  eko  que serve para proteção, pois as acalma quando é despejado na terra, este representa o poder feminino, pois entre outros ingredientes leva: plumas - simbolizam muitos filhos e proteção; sangue - representa a menstruação e a vida.

Presume-se que a palavra  Aje  utilizada como "bruxa" prove da contração de Iya je(a mãe que come) aludindo a seu voraz apetite, sempre atraída pelo cheiro a sangue e    vísceras ela pode vir sob a forma de mosca, pássaro, gracioso ou inclusive outros animais. 

Texto Adaptado por Lokeni Ifatolà