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"Ser de Candomblé não se limita ao fato de ter uma religião, é, sobretudo, um modo de vida".
Pai Lucas de Odé

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Olubajé - O banquete do Rei

Por Pai Lucas de Odé

Anualmente, no mês de agosto, o Ilè Dará Agan Oyá Asé Elegbara Omodé - casa de Candomblé Ketu, situada em Campo Grande - MS - celebra a tradicional festa em homenagem Omolú/Obaluaiyè, o Olubajé (O banquete do Rei).
Neste ano, o festejo aconteceu no dia 21 de agosto e contou com a presença do Babalorisá Carlito de Osumarè, do Ilè Olá Omi Asé Opò Araká, da Iyalasé Pâmela de Osòguiyán, Elemosó Vinícios de Osòguiyán e Asobá Irineu, todos do Ilè Olá, em São Paulo.

Omolú/Obaluaiyè  é o Orisá que deflagra a peste, mas que também tem o poder de controlá-la e promover a cura. É ele o Orisá que chamamos de Rei da Terra, também é encontrado nos raios solares e seu calor,domina o mundo dos espíritos - juntamente com Oyá - e regula a influência dos mortos sobre os humanos, entre outras atribuições.

O Olubajé compõem-se de uma série de comidas ritualísticas de Obaluaiyè, dispostas em panelas de barro, que são servidas a todos os presentes sobre folhas de mamona. O propósito é que todos comunguem com o Rei de sua comida, abençoada pelo próprio Orisá, por meio dos cântigos e danças, a fim de serem abençoados com saúde e prosperidade, ao mesmo tempo em que se purificam e se libertam de energias ruins.

Na mitologia dos Orisás, existe um itán (lenda) que faz referência à cerimônia. Existem variações acerca da mesma passagem, mas Reginaldo Prandi, em seu livro "Mitologia dos Orixás" (Companhia das Letras,2001) narra da seguinte maneira:

Obaluaê tem as feridas transformadas em pipoca por Iansã

Chegando de viagem à aldeia onde nascera,
Obaluaê viu que estava acontecendo
uma festa com a presença de todos os orixás.
Obaluaê não podia entrar na festa,
devido à sua medonha aparência.
Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, ao perceber a angústia do orixá,
cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava sua cabeça
e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos.
Apesar de envergonhado, Obaluaê entrou,
mas ninguém se aproximava dele.
Iansã tudo acompanhava com o rabo do olho.
Ela compreendia a triste situação de Omolu
e dele se compadecia.
Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do barracão.
O xirê estava animado.
Os orixás dançavam alegremente com suas equedes.
Iansã chegou então bem perto dele
e soprou suas roupas de mariô,
levantando as palhas que cobriam sua pestilência.
Nesse momento de encanto e ventania,
as feridas de Obaluaê pularam para o alto,
transformadas numa chuva de pipocas,
que se espalharam brancas pelo barracão.
Obaluaê, o deus das doenças, transformou-se num jovem,
num jovem belo e encantador.
Obaluaê e Iansã Igbalé tornaram-se grandes amigos
e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos,
partilhando o poder único de abrir e interromper
as demandas dos mortos sobre os homens.
Outras versões do mesmo mito, dizem ainda que após o acontecimento é que os Orisás reconheceram Obaluaiyê como um importante Orisá e passaram a oferecer a ele, anualmente, o Olubajé. O cântico "oni leuá lessi orisá", faz menção a isso, afirmando que trata-se de um grande senhor, um grande orisá...

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