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"Ser de Candomblé não se limita ao fato de ter uma religião, é, sobretudo, um modo de vida".
Pai Lucas de Odé

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Itàn - Lendas

Dambá Odé: Itàn - Lendas: O banquete do Rei

Certa vez, um dos Obá que reinava na cidade de Oyó instruiu seu criado para ir ao mercado e encontrar a melhor de todas as comidas para ser servida em uma grande festa que estava sendo preparada.


O criado tomou o caminho e chegou ao local onde estavam sendo abatidos alguns bois. Examinou todas as partes do animal que lhe foram oferecidas e optou pela língua. Feita a compra retornou ao palácio.

Tão logo chegou, o Obá foi verificar o que seu criado havia escolhido como alimento principal para a sua festa. Surpreso com o que via, perguntou: "Por que você escolheu a língua, se existem coisas melhores para serem servidas? Eu pedi para você trazer o que havia de melhor."

O criado, então, respondeu: "Grande Obá, a língua é, a meu ver, a coisa mais importante do mundo. Não é verdade que com a língua um homem pode falar? Com sua língua ele pode instruir seus criados, aconselhar os filhos a viver uma vida saudável. Com a língua, um Obá comanda um reino e conclama seus exércitos para as batalhas. Com a língua, dois amigos dialogam, um babalaô comunica as mensagens de Ifá, o poeta recita versos, o conselheiro aconselha os governantes, e a mulher canta para o seu recém-nascido. De todas as comigas, a língua é, certamente, a mais notável."

O Obá ouviu tudo com atenção e pensou: "Esse criado é observador. O que ele diz é verdade. Mas vou testar sua sabedoria." Falou, então, para o criado: "De fato, acho que você tem toda razão. Mas agora eu preciso de mais alguma coisa. Volte ao mercado e traga para mim a pior de todas as comidas."

O criado ouviu aquilo, deixou o que tinha trazido na cozinha do palácio e, outra vez, tomou rumo em direção ao mercado. Lá comprou, novamente, uma outra língua e voltou. Procurou o Obá e fez a entrega daquilo que considerava a pior de todas as comidas.

O Obá, olhando para a língua que o criado trouxera, perguntou-lhe: "Por que você trouxe a língua novamente? Ela é a melhor de todas as comidas, isso eu já sei. O que eu quero é a pior de todas." O criado replicou: "Grande Obá de Oyó, a língua é tanto a melhor quanto a pior comida". O Obá continuou sem entender nada: "Agora, como pode ser a pior se também é a melhor?".

E o criado respondeu: "A língua é uma coisa boa, mas também é uma coisa ruim. Com a língua, um homem malicioso fala coisas nocivas, faz disse me disse e traz desgraça a uma comunidade. Com a sua língua, o criado pode desrespeitar a autoridade de seu senhor. E não é o patrão que usa sua língua para dizer palavras ásperas aos seus criados? Com sua língua a esposa desperta a discórdia e desfaz um lar. Um conselheiro usa a língua para dar conselhos ruins para um Obá. E o Obá, com sua língua, que ordena aos seus guerreiros que partam e encontrem a morte. E não é um executante que usa sua língua para ordenar a morte de uma pessoa?
Sim, grande Obá, senhor e rei de toda Oyó, a língua é realmente a pior de todas as comidas".

O Obá tornou a refletir sobre o que tinha ouvido, não encontrando nada para recriminá-lo. Pelo contrário, levou em consideração o seu senso de observação e a inteligência com que o assunto havia sido encarado. E imediatamente, o Obá destituiu o seu criado da função que exercia e o nomeou chefe de uma comunidade próxima a cidade, a fim de que ele colocasse em prática toda a sabedoria que possuía.

Fonte: BENISTE, José. Mitos Yorubás: o outro lado do conhecimento - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,2006.

Conclusão: Essa é uma narrativa que corre entre o povo Yorubá, servindo até como parábola, podendo muito bem ser aplicada a qualquer tipo de sociedade. Entre alguns, a figura do Obá, o rei, não é se não a de Obatalá e a do criado seria a de Orunmilá, que responde às perguntas com sabedoria que lhe é peculiar, mostrando seus conhecimentos sobre as coisas do mundo.

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