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"Ser de Candomblé não se limita ao fato de ter uma religião, é, sobretudo, um modo de vida".
Pai Lucas de Odé

quinta-feira, 23 de abril de 2015

O pão de Ogum

É comum nos Candomblés brasileiros a presença do pão de Ogum nas festividade desse Orixá, mas, de onde vem tal rito? Qual é a explicação que se dá para a ligação do Orixá da forja com o pão? Bem, baseado nos relatos dos meus mais velhos, aos quais já questionei essa prática, a resposta é simples: uma promessa!

De acordo com os antigos, o ato de “rodar o pão de Ogum” teria precedentes numa promessa do finado Babalorixá Valdomiro de Xangô, o pai Baiano. Devoto de Santo Antônio, o sacerdote teria feito uma promessa ao seu santo protetor de que distribuiria o pão aos pobres e escolheu para isso as celebrações de seu também protetor Ogum.


Para os católicos, o pão de Santo Antônio, remonta a um fato curioso que é assim narrado:

“Antônio comovia-se tanto com a pobreza que, certa vez, distribuiu aos pobres todo o pão do convento em que vivia. O frade padeiro ficou em apuros, quando, na hora da refeição, percebeu que os frades não tinham o que comer: os pães tinham sido roubados.
Atônito, foi contar ao santo o ocorrido. Este mandou que verificasse melhor o lugar em que os tinha deixado. O Irmão padeiro voltou estupefato e alegre: os cestos transbordavam de pão, tanto que foram distribuídos aos frades e aos pobres do convento”.

Até hoje na devoção popular o “pãozinho de Santo Antônio” é colocado, pelos fiéis nos sacos de farinha, com a fé de que, assim, nunca lhes faltará o de que comer, símbolo que se estendeu a Ogum.

Originalmente à base de trigo, o pão de Santo Antônio passou a integrar o inhame, alimento votivo de Ogum. Preparado nas casas de Candomblé, o alimento é assado em fornos à lenha, depositado em um cesto ornamentado de mariwò e levado à sala pelo Orixá.

Embora a maioria das imagens do santo não tragam tal símbolo, existem relatos de que na igreja de Santa Luzia no Castelo, no Centro do Rio de Janeiro, no fundo da igreja existe uma Imagem de Santo Antônio, tendo sobre o braço esquerdo o Livro dos Evangelhos, com o Menino Deus sentado sobre o livro, segurando um cesto repleto de pães, enquanto Santo Antônio com a mão direita oferece um pão a alguém.

Em se tratando da mitologia dos Orixás, Ogum é o Orixá que possibilitou o cultivo contínuo da terra num mesmo lugar. Filho de Sárokò (Orixá Okò) - o Orixá da agricultura -, Alagbedé, o ferreiro, foi quem fabricou ferramentas que davam mais eficiência ao trabalho. Assim, além de não faltar alimentos, puderam também surgir as grandes civilizações, considerando que antes os povoados migravam de acordo com as condições do solo.

Portanto, a promessa se tornou tradição. Ainda que não seja um rito obrigatório, o pão de Ogum é sempre esperado nos Candomblés e a fé das comunidades de terreiro ainda mantém o alimento nas latas de mantimentos.

Por Pai Lucas de Odé - Babalorixá do Ilê Iyeiyeo Axé Dambá Odé 

Um comentário:

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