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"Ser de Candomblé não se limita ao fato de ter uma religião, é, sobretudo, um modo de vida".
Pai Lucas de Odé

quarta-feira, 2 de março de 2011

Exú ganha o poder sobre as encruzilhadas

Itàn - Lendas:

Exú ganha o poder sobre as encruzilhadas


Exú não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio,
não tinha profissão, nem artes, nem missão.
Exú vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.
Então um dia, Exú passou a ir à casa de Oxalá.
Ia à casa de Oxalá todos os dias.
Na casa de Oxalá, Exú se distraía,
vendo o velho fabricando os seres humanos.
Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá,
mas ali ficavam pouco,
quatro dias, oito dias e nada aprendiam.
Traziam oferendas, viam o velho Orixá,
apreciavam sua obra e partiam.
Exú ficou na casa de Oxalá dezesseis anos.
Exú prestava muita atenção na modelagem
e aprendeu como Oxalá fabricava
as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens,
as mãos, os pés, a boca, os olhos, a vagina das mulheres.
Durante dezesseis anos ali ficou ajudando o velho Orixá.
Exú não perguntava.
Exú observava.
Exú prestava atenção.
Exú aprendeu tudo
Um dia Oxalá disse a Exú para ir postar-se na encruzilhada
por onde passavam os que vinham à sua casa.
Para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse
uma oferenda para Oxalá.
Cada vez mais havia mais humanos para Oxalá fazer.
Oxalá não queria perder tempo
recolhendo os presentes que todos ofereciam.
Oxalá nem tinha tempo para as visitas.
Exú tinha aprendido tudo e agora podia ajudar Oxalá.
Exú coletava os ebós para Oxalá.
Exú recebia as oferendas e as entregava a Oxalá.
Exú fazia bem o seu trabalho
e Oxalá decidiu recompensá-lo.
Assim, quem viesse à casa de Oxalá
teria que pagar também alguma coisa a Exú.
Quem estivesse voltando da casa de Oxalá
também pagaria alguma coisa a Exú.
Exú mantinha-se sempre a postos
guardando a casa de Oxalá.
Armado de um ogó , poderoso porrete,
afastava os indesejáveis
e punia quem tentasse burlar sua vigilância.
Exú trabalhava demais e fez ali sua casa,
ali na encruzilhada.
Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa.
Exú ficou rico e poderoso.
Ninguém pode mais passar pela encruzilhada
sem pagar alguma coisa a Exú.

Fonte: PRANDI, Reginaldo, Mitologia dos Orixás - São Paulo: Companhia das Letras,2001.


Comentário: Na própria obra Prandi faz comentários sobre o Itàn citado. Assim que o li captei a mensagem transmitida. O aprendizado iniciático no candomblé ocorre de forma lenta e gradual. Essa é uma das máximas do candomblé. Sempre disse aos meus filhos, "Candomblé se aprende com olhos e ouvidos". Isso deve-se ao fato de nossa religião ser transmitida oralmente, ou seja, de não haver uma "coletânea" de todos os rituais presentes em nossa religião.

Prandi enfatiza ainda o fato de o número 16 transmitir a idéia de perfeição para o povo Yorubá. Vale ressaltar que no culto de Ifá, o 16 é o número indicativo do Odú Aláfia, na ordem de resposta do jogo de búzios, por Oseturá. Para nós candomblessistas, Aláfia é indicativo de confirmação, pleno êxito, contentamento, felicidade e lucros.

O Itàn acima faz referência também ao Orixá Exú no sentido de que é sempre o primeiro a receber suas oferendas nos rituais de candomblé. No candomblé costumamos dizer que Exú é Òjisé, aquele que conduz as  nossas mensagens e pedidos. No idioma Yorubá, a palavra Òjisé significa literalmente "mensageiro, criado".
(Essas são as minhas percepções sobre o mito acima, espero ter colaborado, Pai Lucas de Odé).

8 comentários:

  1. Oríkì fún Bàbá Èsù

    Èsù pèlé o, okanamaho, ayanrabata awo he oja oyinsese,
    seguri alabaja, olofin apekayu, amonise gun mapo

    Nko o
    Èsù, ba nse ki imo
    Èsù, keru o ba onimimi
    Èsù, fun mi ofo ase mo pele Òrìsà
    Èsù, alayiki a juba
    Àse



    Elogiado é o espírito do mensageiro divino
    Mensageiro Divino, eu chamo a você por seus nomes de elogio
    Mensageiro Divino guia minha cabeça para minha rota com destino
    Mensageiro Divino, eu honro a sabedoria infinita
    Mensageiro Divino, ache lugar onde submergir meus sofrimentos
    Mensageiro Divino, dê força para minhas palavras de forma que evoque as forças da natureza fortemente
    Mensageiro Divino, nós pagamos nossos cumprimentos dançando em círculo
    Asé
    onibode òrun bàbá ooooo mojubaré!

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  2. QUERO AQUI PRESTAR MINHA HOMENAGEM A BÀBÁ ÈSÙ, SENHOR DIGNO DE TODOS NOSSOS LOUVORES E HONRAS, QUANTO MAIS LOUVO MAIS ELE ESTÁ EM MEU FAVOR....ADUPEOOO BÀBÁ ÉSÙ.
    TAMBEM QUERO APROVEITAR SEU BLOG,PAI LUCAS, E DIZER PARA QUEM NAO CONHECE: BÀBÁ ÈSÙ É UM ÒRÌSÁ, FOI O PRIMEIRO SER CRIADO NA EXISTENCIA POR ÒLÒDUMARÈ,A PRIMEIRA CRIAÇAO, A PEDRA VERMELHA DE LATERIA DENOMINADO ÈSÙ YANGI.COM ISTO NAO PODEMOS COMPARAR OS ESPÍRITOS CATIÇOS QUE ENCORPORAM EM NOS MÉDIOS, COMO ÈSÙ. MAIORES INFORMAÇOES YALORISA LEONI,KKKKKKKKKK

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  3. ONDE NAO TEM YANGI, NAO TEM ÈSÙ! EU GARANTO!

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  4. Devido a conduta astúcia e articulosa de(EXU)ÈSÙ, desencadeou um grande mito para as demais religiões, imprimindo aspectos negativos e demoníacos à imagem de Èsù.
    A perda dos valores primais africanos foi causada, sobretudo, pela escravidão, e posteriormente pela miscigenação, permitindo assim que muitos seguidores das religioões afro descendentes ressaltem os aspectos do ÒRÌSÀ ÈSÙ como demônios, referindo

    se a Esu como:
    Exu Lucifer, Exu Tranca Ruas, Exu sete poeiras do inferno, Exu Rei das sete
    encruzilhadas, ou mudam seu sexo, Exu Pomba Gira ou Exu Maria Padilha.
    Os nomes e atributos deste importante Òrìsà do panteão Yoruba, não permitem
    interpretações errôneas como as perpetuadas pela inércia e ignorância de pessoas que se intitulam sacerdodes da cultura Yoruba. Não é porque estamos no Brasil que vamos deixar isso continuar acontecendo. Anteriormente eu tembem desconnhecia a diferença que existe entre essas colocaçoes a BÀBÁ ÉSÙ, Hoje estudando o culto tradicional yorubá vejo os absurdos comparativos, sobre ÈSÙ e sobre os demais ÒRÌSÀS.
    TÍTULOS E ATRIBUTOS A BÀBÁ ÈSÙ
    ESU YANGI
    O primeiro da criação, a laterita vermelha
    ESU AGBA
    Aquele que é o ancestral
    ESU IGBA KETA
    O dono da cabaça, o Igba Odu
    ESU OKOTO
    O dono da evolução, o caracol.
    ESU OBASIN
    O pai de todos os Esu
    ESU ODARA
    O Esu da felicidade
    ESU OJISE EBO
    O Esu que leva as mensagens ao Orisa
    ESU ELERU
    O Esu que leva o carrego dos iniciados
    ESU ENUGBARIJO
    O Esu que trás a prosperidade
    ESU ELEGBARA
    O Esu que detém o poder da transmutação
    ESU BARA
    O Esu dono do movimento do corpo humano
    ESU OLONAN
    O dono de todos os caminhos
    ESU OLOBÉ
    O dono da faca ritual
    ESU ELEBÓ
    O Esu que recebe as oferendas
    ESU ODUSO
    O Esu que vigia os oráculos
    ESU ELEPO
    O Esu do azeite de dendê
    ESU INA
    O Esu do fogo (saudado no Ipade)
    E MUITO MAIS, ...

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  5. DEPOIS SE ME PERMITIREM POSSO FALAR SOBRE AS COLOCAÇOES DOS CATIÇOS,
    TRANCA RUAS,MARIA PADILHA ETC...

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  6. Belíssima colocação da irmã Iyalorisá Leoni. Poderemos ainda estender esse tema para seguinte discussão: Existem zeladores que "interpretam" alguns desses nomes, citados pela irmã Leoni como, "qualidades" do Orisá Esú e outros os tem como "títulos", atribuídos a esse Orisá. Da mesma forma que Osalá é conhecido por vários outros nomes, de acordo com os Itàns que revelam façanhas daquele Orisá, como por exemplo: Aláàbáláàse - o que tem o poder de criar com autonomia - Alámò rere - o perfeito escultor - Orisá Nlá - o grande Orisá -, entre outros.

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  7. Sobre a demonização de Esú, a história nos ajuda a entender esse fenômeno. Quando os negros vieram para o Brasil, através do tráfico de escravos, viram-se impedidos de cultuar seus deuses e antepassados, sob pena de sofrerem coerção da igreja católica. Diante da iminência de uma inquisição, passaram a fazer analogia entre seus deuses e os santos católicos. Surgia o famoso processo de sincretismo religioso. Foi então que vendo as semelhanças entre Ogun e São Jorge, entre Iansã e Santa Bárbara, entre Obaluaye e São Lázaro, aconteceu, não por vontade do povo negro, o sincretismo entre Esú e o diabo. Do sincretismo religioso surgiu a famosa Umbanda, uma religião genuinamente brasileira. Esú no candomblé é a divindade da comunicação, da virilidade, da sexualidade. Esú foi sincretizado com o diabo católico por ser astucioso, provocador, considerado indecente ao se apresentar para dançar, pelas suas insígnias, por ser o Orisá mais próximo do ser humano, por ser polivalente, mediador. Bem como sua saudação - Láaròyè Esú - denota: O bem falante e comunicador. Olópa Olódùmarè lailai (Fiscal de Olodumare desde tempos imemoriais).

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  8. Sobre os catiços, achamos um tema relevante para discussão. Pedimos a irmã Leoni que envie por email (iledaracg@gmail.com) suas colocações, para que a postemos no blog, com o devido crédito, a fim de que tenha melhor visualização pelos leitores.

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