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"Ser de Candomblé não se limita ao fato de ter uma religião, é, sobretudo, um modo de vida".
Pai Lucas de Odé

domingo, 31 de janeiro de 2016

Presentes ecológicos celebram Iemanjá

Foto: Péricles Palmeira
Dois presentes, neste final de semana, antecipam as homenagens realizadas no dia 2 de fevereiro para a Rainha do Mar. Além do propósito de agradar à divindade, ambos trazem no nome da oferenda o cuidado com o meio ambiente.

Iniciativas como estas têm sido alvo de debates mais constantes, após a publicação do artigo Presença, sim! Presente, não!, em dezembro de 2015 em A TARDE, da ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, Mãe Stella de Oxóssi.

No texto, ela revelou que, a partir deste ano, o terreiro não irá colocar presentes no mar em homenagem a Iemanjá. A orientação da líder espiritual é que sejam oferecidos cânticos à divindade protetora da cabeça, Iemanjá do povo ketu, Mamento Dadá, Dandalunda ou Kayala, correspondente nas nações da família bantu.

A amplitude da festa em homenagem à Rainha do Mar, realizada no Rio Vermelho, foi a motivação da recomendação de Mãe Stella.

A 3ª edição do presente ecológico para Iemanjá aconteceu neste sábado (30), organizada  pelo coletivo de grafite Nova 10 Ordem, que atua na comunidade Solar do Unhão (Gamboa de Baixo) com o projeto Museu Street Art Salvador (Musas).

"Fizemos a escultura de uma sereia negra e, após conversar com moradores, resolvemos sacralizar a peça por conta da relação que a comunidade tem com ela, por ser próxima ao mar", contou Julio Costa, integrante do Musas.

A concentração teve início às 9h, na sede do Musas, quando ocorre, além do café da manhã, os últimos preparativos das oferendas que serão entregues no mar.

Por volta das 11h, religiosos do candomblé, integrantes do Musas e moradores saem em cortejo, embalados pelo afoxé Filhas de Gandhy, percorrem as ruas do local e seguem até a embarcação que levará os presentes.

Todas as comidas votivas de Iemanjá e para Oxum são embaladas em folhas de bananeira, mantendo a relação essencial de respeito entre as religiões de matriz africana e a natureza.

"Não usamos recipientes. Até os balaios voltam com a gente. No mar, só ficam as comidas, o líquido dos perfumes e as flores. Não usamos sabonete, espelho e qualquer outro material que se transforme em poluente", disse a equede Noélia Pires, do Terreiro Omi Tolá, responsável pela preparação espiritual do presente. Na volta do mar, uma feijoada encerra o ritual religioso.

Culto semelhante ocorre, domingo, 31, no bairro do Rio Vermelho. Na 10ª edição, a campanha Iemanjá Protege Quem Protege o Mar será realizada pelo  Grupo Nzinga de Capoeira Angola.
Os preparativos começam neste sábado, no terreiro Mutá Lambô ye Kaiongo, liderado pelo tata de inquice Mutá Imê. No domingo, às 19h, os integrantes do Nzinga saem para a entrega dos presentes.

Dique
A primeira homenageada é Kissimbi (divindade corresponde a Oxum da tradição Ketu), que tem  ritual realizado no Dique do Tororó. Em seguida, já no Rio Vermelho, é a vez de Dandalunda (correspondente a Iemanjá da tradição Ketu).

A orientação é que as pessoas escolham presentes de materiais biodegradáveis, como flores, frutas, fibras vegetais e papel. "O ideal é levar objetos como bonecas de pano, colares e brincos de conchas, barquinhos de papel, além dos bilhetes com pedidos", explicou Paula Barreto, uma das coordenadoras Nzinga.
"O candomblé já tem essa preocupação de não agredir a natureza que é a essência da religião. Colocamos as comidas rituais e materiais biodegradáveis", contou o tata de inquice Mutá Imê.

A ação intensificada por divulgação em redes sociais e palestras na sede da associação tem dado resultado. "Tem crescido a participação ao longo dos anos. As pessoas lotam a sede e acompanham os presentes", contou o sacerdote.

Reportagem de Meire Oliveira, do jornal A Tarde

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