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"Ser de Candomblé não se limita ao fato de ter uma religião, é, sobretudo, um modo de vida".
Pai Lucas de Odé

quinta-feira, 7 de abril de 2011

IItàn - Lendas - Ossaim recusa-se a cortar as ervas miraculosas

Ossaim era o nome de um escravo que foi vendido a Orunmilá.
Um dia ele foi à floresta e lá conheceu Aroni,
que sabia tudo sobre as plantas.
Aroni, o gnomo de uma perna só, ficou amigo de Ossaim
e ensinou-lhe todo o segredo das ervas.
Um dia, Orunmilá, desejoso de fazer uma grande plantação, ordenou a Ossaim
que roçasse o mato de suas terras.
Diante de uma planta que curava dores,
Ossaim exclamava:
"Esta não pode ser cortada, é a planta que cura as dores".
Diante de uma planta que curava hemorragias, dizia:
"Esta estanca o sangue, não deve ser cortada".
Em frente a uma planta que curava a febre, dizia:
"Esta também não, porque refresca o corpo".
E assim por diante.
Orunmilá, que era um Babalaô muito procurado por doentes,
interessou-se então pelo poder curativo das plantas
e ordenou que Ossaim ficasse junto dele nos momentos de consulta,
que o ajudasse a curar os enfermos com o uso das ervas miraculosas.
E assim Ossaim ajudava Orunmilá a receitar
e acabou sendo conhecido como o grande médico que é.

Fonte: PRANDI, Reginaldo, Mitologia dos Orixás - São Paulo: Companhia das Letras,2001.

Comentário: O mito nos revela que Ossaim na verdade trata-se de um grande curandeiro. Apesar de Obaluaye ser o Orixá responsável pela peste e toda ordem de problemas de saúde, é Ossaim quem possui segredos para a cura.

No Candomblé o uso das folhas é vasto. Desde a composição do Abò, dos Amassi, até as folhas utilizadas na lavagem das insígnias rituais, entre outras aplicações, nós sacerdotes sempre temos que agir com a conformidade desse Orixá.

Por ser Ossaim o conhecedor e dono do segredo das ervas, procedemos em homenagem a ele o ritual de sassaim e também o chamado fesú, onde "prestamos contas" de todas as folhas utilizadas. Esse preceito começa desde o modo como se colhe a folha, ao pilá-la para a obtenção de seu sumo, ao tomar o banho e por todo o momento em que as folhas são empregadas.

Também é interessante a referência a Aroni. Poucos sacerdotes lembram-se dessa entidade. Muitos esteriotipam Ossaim como o "saci", mas na verdade é Aroni quem possui apenas uma perna. Existe uma cantiga, tocada no ritmo de bravum, executada no rum de Ossaim que se refere a essa condição física. Nessa ocasião Ossaim dança com uma das mãos "esfregando" uma das pernas.

Sobre tudo, o mito nos serve de conscientização para o modo como devemos "tratar" qualquer planta ou erva, já que trata-se de um recurso sagrado da religião dos Orixás. Vale lembrar a famosa frase yorubá: "ko sí èwè, ko sí òrisá - SEM FOLHA, NÃO HÁ ORIXÁ. A própria saudação de Ossaim prega: Ewè o! Ewè asá! - OH AS FOLHAS! A FOLHA É A TRADIÇÃO! (Atenciosamente, Pai Lucas de Odé)

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