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"Ser de Candomblé não se limita ao fato de ter uma religião, é, sobretudo, um modo de vida".
Pai Lucas de Odé

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Entre fumaça, perfume e algo mais no ar

Por Lucas Junot e Vicenzzo Vicchiatti


Em determinada época de minha vida universitária surgiu a possibilidade de realizar uma "vivência" dentro de um terreiro de Candomblé. Apesar de fazer parte do Candomblé há muitos anos, quando meu colega Vicenzzo sugeriu que fizéssemos o trabalho acerca da minha casa e religião, desconsiderei a hipótese no mesmo instante, visto que correria o risco de deixar minha imensa paixão pelo Candomblé interferir em nosso texto. No entanto me ocorreu uma boa idéia. Seria interessante para mim, enquanto religioso, constatar a opinião de alguém leigo, além de eu mesmo me desprender dos meus valores para friamente analisar o que se passa em uma casa de Candomblé.


Sob a ótica de uma pessoa leiga, com certeza Vicenzzo ligou o lugar que viu ao local onde se passam as “missas” da igreja católica, só que na religião do Candomblé. Seria uma visão preconceituosa chamar o ilè ( palavra do dialeto Yorubá que significa casa) de Terreiro ou centro de macumba, como tanto ouvira?



Quando conversamos depois ele me disse ter se libertado da visão preconceituosa sobre essa religião tão pouco conhecida por ele anteriormente.



Ao entrar no ilè, também conhecido como barracão - referindo-se ao grande salão onde se passam as festividades – Vicenzzo se deparou com pessoas alegres, notóriamente felizes, bonitas que dançavam em círculo fazendo gestos em analogia as passagens dos mitos que contam a história dos Orixás. Disse ter sentido uma atmosfera totalmente diferente do que havia sentido antes, quando freqüentava a igreja católica. “O que senti me arrepiou até os pêlos da nuca", disse espantado.



Naquela atmosfera, o ar estava mais leve e eu me sentia bem e à vontade”, disse ele, indagando-se. “Seria por causa do aroma das flores que compunham a decoração, pelas plantas presentes em toda extensão do local ou pelo cheiro de um incenso que passaram antes de tudo - que eles chamavam de 'defumação' - que crepitava por toda parte? Ou pelos diversos perfumes misturados naquele extenso salão?”



“O ambiente tão estereotipado por ‘centro de macumba’, se tornou um lugar agradável e acompanhado por um perito no assunto, meu companheiro de trabalho e amigo, lá chamado de Pai Lucas de Odé, um Sacerdote da religião, depois pude compreender a lógica dos rituais que havia visto”. Relatou Vicenzzo.



“Ao começar a música, o batuque dos atabaques, começa a cerimônia de fato. Uma sensação de remorso toma conta de mim, tudo que eu anteriormente pensava, era uma visão preconceituosa e que grande parte da população tem de forma errônea”, comentou Vicenzzo.



“Segundo o Lucas me informou posteriormente, no Candomblé são cultuados os Orixás, que são Deuses que regem as forças da natureza, como Oyá, Deusa do fogo e dos ventos, Ogum Deus do ferro e das estradas , Oxum Deusa da água doce e da fertilidade, entre outros".



"De agora em diante, toda vez que eu ouvir algum tipo de comentário preconceituoso, irei me expressar de forma contrária, pois agora realmente sei do que estou falando".



"Os meus pensamentos quando eu entrei naquele templo foram de total reflexão e ao assistir a cerimônia, com pessoas dançando alegres, felizes, onde pude presenciar que estavam como eu em total bem-estar, além de outras em estado de transe, incorporadas com os Orixás, com roupas lindas e insígnias que faziam referência ao universo que representavam”.



“Foi um choque completamente positivo na minha cabeça, uma experiência única e enriquecedora".



Analisando a reação do Vicenzzo, pude constatar como religioso, estudioso do Candomblé e, evidentemente, acadêmico e ser humano, que a sociedade como um todo e - com destaque para o âmbito jornalístico - 'emburrecem' ( se cabe aqui um neologismo) com seus pré-julgamentos a 'egbé' (sociedade em Yorubá) e inibem uma formação de conceitos independente de valores pré-estabelecidos pelos alienados.

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