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"Ser de Candomblé não se limita ao fato de ter uma religião, é, sobretudo, um modo de vida".
Pai Lucas de Odé

terça-feira, 19 de abril de 2011

Jornalismo UFMS realiza debate sobre Candomblé e preconceito

Trazemos nesta terça-feira, caros leitores, um texto de 2009 veiculado originalmente no site www.webjornalismo.jor.br, a respeito de uma conferência que Mãe Zilá e Pai Lucas ministraram na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Naquela ocasião o intuito dos zeladores foi expor ao público leigo os principais fatores que preconizam a religião dos Orixás. Vale a pena registrar!  Asé Ibasé!

Acadêmicos do 2º ano do curso de Jornalismo da UFMS realizaram, no dia 18 de setembro, uma conferência a favor da cidadania. O trabalho, desenvolvido na disciplina de “Técnica de reportagem, entrevista e pesquisa jornalística”, abordou, dentre outros aspectos, o preconceito contra as religiões afro-brasileiras e o Candomblé enquanto patrimônio histórico e cultural. Os alunos começaram o trabalho de pesquisa jornalística em abril desse ano, e, em parceria com o professor Edson Silva, pretendem organizar um caderno de grandes reportagens. O Candomblé será um dos temas desse caderno.

O trabalho a respeito do jornalismo cultural se iniciou com as aulas teóricas e foi seguido de profunda pesquisa jornalística acerca do tema, que envolveu observação direta, entrevistas, socialização do material, conferência, e pretende terminar com a elaboração do caderno de reportagens. O caderno também terá como temas ‘Operário Futebol clube’, ‘A viagem como descoberta’ e ‘Violência contra crianças e adolescentes – Uneis’.

 A entrevistada escolhida para a primeira conferência foi Zilá Dutra, Ialorixá (ou Zeladora) da Ilè Dará Agan Oyá Asé Elégbara Omodè, casa de Candomblé visitada pelos alunos, chamada, por mãe Zilá, de barracão. O grupo responsável pelo tema se preocupou em debater o preconceito contra candomblecistas e a importância de jornalistas discutirem temas considerados tabus.


A religião

O Candomblé é uma religião originária da África, trazida ao Brasil pelos africanos escravizados na época da colonização brasileira. Nessa religião se cultuam os Orixás, que são arquétipos de uma atividade ou função, e representam as forças que controlam a natureza e seus fenômenos, como a água, o vento, a terra, as florestas e os raios. Quando os negros chegaram ao Brasil, foram proibidos de cultuarem seus deuses. Isso fez com que disfarçassem sua religião atrás de altares católicos. Talvez por isso exista, ainda hoje, um equívoco sobre o sincretismo dessa religião com os santos católicos.


O preconceito

Durante a pesquisa, os alunos se depararam com depoimentos de pessoas que têm receio de admitir, na empresa onde trabalham, que são candomblecistas, por medo de serem taxadas de maus e perderem seus empregos. O preconceito atinge também as crianças: “Uma de nossas crianças foi pra escola com um kele, que é uma espécie de colar. Para as pessoas não ficarem olhando, a gente enrola ele com um paninho branco e as crianças têm que ir pra escola daquele jeito durante seu processo de resguardo. E aconteceu o quê? A professora, evangélica, falou pro menino que ele era filho do capeta e não queria que ele frequentasse as aulas”, relata a Ialorixá. Zilá afirma, ainda, que, em seu barracão, as crianças não se abalam com isso, pois recebem argumentos suficientes para se defender. O que não significa que possam ser discriminadas, afinal, a Constituição brasileira assegura, a todos, a liberdade de culto.


O papel do jornalista

É importante para o futuro jornalista aprender a se despir de qualquer preconceito sobre qualquer assunto, pois o papel de um comunicador social é representar os interesses do cidadão e ouvir e observar os mais diversos fatos. Lucas Junot, Babalaxé (pai do axé) do Ilè Dará e acadêmico de Jornalismo na UFMS, destaca a importância do trabalho dos colegas: “O jornalista pode mostrar que o Candomblé vai muito além da ideia que as pessoas têm dele. Se alguém fizesse um vídeo de um Candomblé de forma correta e passasse isso na televisão, com uma única frase, ‘Candomblé é isso!’, eu garanto pra você que as coisas mudariam bastante”.


O professor da disciplina de Técnicas de Reportagem, Edson Silva, também coordenador da conferência, reafirma que “é muito interessante falar pra jornalistas, ou estudantes de jornalismo. É bom falar pra médico? É. É muito bom falar pra advogado? É. Mas o advogado fala pra poucos, o jornalista fala pra milhões”. Trata-se de um risco grande, se houver deturpação da informação, mas também é a possibilidade de fazer com que a informação, bem apurada e de qualidade, chegue corretamente à população. “Nosso papel na Universidade é despertar a sensibilidade e oferecer a oportunidade de o aluno conhecer determinado assunto”, garante o professor Edson.


Autor: Thaysa Freita

2 comentários:

  1. Obrigada pela oportunidade, Lucas! (apesar de ter certeza de que hoje eu escreveria bem melhor sobre o assunto).
    Aproveito o espaço pra reforçar o bem que você, sua mãe e todo o barracão fizeram pra mim enquanto ser humano. Há alguns dias você comentou com um colega nosso que eu mudei minha visão sobre o Candomblé depois que conheci vocês. E eu rebati dizendo que mudei minha visão de mundo. Porque os tabus que eu derrubei pra ter contato com os Orixás eram os maiores que eu tinha. Depois deles não posso ter mais nenhum.
    Eu sempre digo que jornalista tem que ter a mente aberta pras coisas, pelo menos pra conhecer, e dessa forma, esclarecer, divulgar e ajudar as pessoas a respeitarem. Mas não. Não é só o jornalista. É o ser humano. Uma pena que o nosso caderno não tenha sido concretizado, seria de suma importância pra plantar a sementinha da conscientização.
    No entanto temos você a frente do jornal da federação e empenhando nesse blog. MS (e porque não o Brasil?) na luta, sempre! E você contribuindo.
    Mais uma vez parabéns pelo blog! Por dar espaço para pessoas do axé e pessoas não-do-axé se manifestarem.
    Tamujunto!
    Boraaaaaaaaaaaaa!!!!
    Pra frente!

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  2. Asé....é isso aí a jornada é longa...mais com fé chegaremos lá...

    Motumbá!

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